Concordância Nominal e Verbal: Guia Completo com Regras e Exercícios

A concordância é um dos pilares fundamentais da gramática portuguesa, garantindo a harmonia entre os elementos da frase. Dominar as regras de concordância nominal e verbal é essencial para uma comunicação clara e correta.

Neste guia completo, vamos desvendar todos os aspectos da concordância, desde as regras básicas até os casos mais complexos.

O que é concordância?

Concordância é o princípio gramatical que estabelece a relação correta entre palavras da mesma frase quanto a gênero, número e pessoa. Existem dois tipos principais:

  • Concordância Nominal: ajuste de gênero e número entre substantivos e seus determinantes (artigos, adjetivos, pronomes, numerais)
  • Concordância Verbal: ajuste de número e pessoa entre o verbo e seu sujeito

Concordância Nominal

Regra básica

Os artigos, adjetivos, pronomes e numerais concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem.

Exemplos:

  • O menino inteligente (masc. sing.)
  • As meninas inteligentes (fem. pl.)
  • Meu livro novo (masc. sing.)
  • Minhas canetas novas (fem. pl.)

Casos especiais de concordância nominal

1. Um adjetivo para dois ou mais substantivos

a) Substantivos do mesmo gênero: o adjetivo vai para o plural do mesmo gênero

  • Livro e caderno novos
  • Revista e pasta bonitas

b) Substantivos de gêneros diferentes: o adjetivo vai para o masculino plural

  • Menino e menina estudiosos
  • Casa e apartamento modernos

c) Concordância atrativa: o adjetivo concorda apenas com o substantivo mais próximo (menos comum)

  • Literatura e música brasileira
  • Homens e mulheres dedicadas

2. Adjetivos compostos

Apenas o último elemento varia em gênero e número:

  • Camisa verde-clara / Camisas verde-claras
  • Olho azul-marinho / Olhos azul-marinho

Exceção: surdo-mudo(s) e surda(s)-muda(s) – ambos os elementos variam

3. Expressões específicas

a) É bom, é necessário, é proibido: ficam invariáveis quando o sujeito não tem artigo

  • Água é bom para a saúde
  • É proibido entrada

Mas variam quando o sujeito tem artigo:

  • A água é boa para a saúde
  • É proibida a entrada

b) Meio, bastante, caro, barato: variam quando são adjetivos, permanecem invariáveis quando são advérbios

  • Meia maçã (adjetivo)
  • Ela está meio cansada (advérbio)
  • As frutas estão caras (adjetivo)
  • As frutas custam caro (advérbio)

4. Menos, alerta, pseudo

São sempre invariáveis:

  • Menos pessoas
  • Os guardas ficaram alerta
  • Pseudo-especialistas

Concordância Verbal

Regra básica

O verbo concorda em número e pessoa com o sujeito da oração.

Exemplos:

  • O aluno estuda (3ª pessoa singular)
  • Os alunos estudam (3ª pessoa plural)
  • Eu estudo (1ª pessoa singular)
  • Nós estudamos (1ª pessoa plural)

Casos especiais de concordância verbal

1. Sujeito composto

a) Sujeito composto anteposto ao verbo: verbo no plural

  • João e Maria chegaram cedo
  • O livro e o caderno estão na mesa

b) Sujeito composto posposto ao verbo: verbo pode concordar com o mais próximo ou ir para o plural

  • Chegou o professor e os alunos (ou Chegaram)
  • Venceu o bem e a justiça (ou Venceram)

c) Sujeito com pessoas gramaticais diferentes:

  • 1ª pessoa prevalece: Eu e você iremos
  • 2ª pessoa sobre a 3ª: Tu e ele ireis

2. Expressões partitivas (a maioria de, grande parte de, etc.)

O verbo pode concordar com o núcleo do sujeito ou com o complemento:

  • A maioria dos alunos chegou (ou chegaram)
  • Grande parte dos convidados compareceu (ou compareceram)

3. Porcentagens

O verbo concorda com o número ou com o substantivo que o acompanha:

  • 1% dos eleitores votou (ou votaram)
  • 50% da turma faltou (ou faltaram)

4. Verbos impessoais

Ficam sempre na 3ª pessoa do singular:

  • Havia muitas pessoas na festa
  • Faz dois anos que não o vejo
  • Chove muito nesta época

5. Sujeito representado por pronome relativo “que”

O verbo concorda com o antecedente do pronome:

  • Fui eu que fiz o trabalho
  • Fomos nós que fizemos o trabalho

6. Sujeito representado por pronome relativo “quem”

O verbo pode ficar na 3ª pessoa do singular ou concordar com o antecedente:

  • Fui eu quem fez (ou fiz) o trabalho
  • Fomos nós quem fez (ou fizemos) o trabalho

7. Expressão “um dos que”

O verbo pode ficar no singular ou no plural:

  • Ele é um dos que mais estuda (ou estudam)

Erros comuns de concordância

1. Concordância com coletivos

Incorreto: O grupo de alunos chegaram tarde
Correto: O grupo de alunos chegou tarde

2. Expressões como “nem um nem outro”

Incorreto: Nem João nem Pedro chegaram
Correto: Nem João nem Pedro chegou (verbo no singular)

3. Sujeito oracional

Incorreto: Estudar e trabalhar fazem bem
Correto: Estudar e trabalhar faz bem (verbo no singular)

Exercícios práticos

Complete as frases com a concordância correta:

  1. A maioria dos candidatos _____ (passou/passaram) no exame.
  2. As crianças estavam _____ (meio/meias) cansadas.
  3. _____ (É/São) necessário paciência nestes casos.
  4. João e Maria _____ (foi/foram) ao cinema.
  5. _____ (Faz/Fazem) dez anos que não o vejo.
  6. A casa e o apartamento _____ (foi/foram) vendidos.
  7. _____ (Chegou/Chegaram) o diretor e os professores.
  8. 50% da turma _____ (faltou/faltaram) hoje.
  9. Camisas _____ (azul-claro/azul-claras) são elegantes.
  10. Sou eu que _____ (faço/faz) o trabalho.

Respostas:
1. passou (ou passaram); 2. meio; 3. É; 4. foram; 5. Faz; 6. foram; 7. Chegou (ou Chegaram); 8. faltou (ou faltaram); 9. azul-claras; 10. faço

Dicas para evitar erros de concordância

  1. Identifique o sujeito: sempre localize o sujeito da oração antes de conjugar o verbo
  2. Preste atenção aos coletivos: palavras como “maioria”, “grupo”, “bando” pedem verbo no singular
  3. Cuidado com expressões partitivas: elas permitem dupla concordância
  4. Observe a ordem das palavras: sujeitos compostos anteposto ao verbo pedem plural
  5. Memorize os casos especiais: verbos impessoais, expressões invariáveis, etc.

Conclusão

A concordância nominal e verbal é essencial para a clareza e correção da comunicação escrita. Embora apresente muitas regras e exceções, seu domínio vem com a prática regular e o estudo consciente. Lembre-se de que em alguns casos há mais de uma possibilidade correta, dependendo da ênfase que se quer dar.

Continue praticando com exercícios variados e prestando atenção à concordância nos textos que você lê. Com o tempo, as regras se tornarão automáticas e você conseguirá aplicá-las naturalmente em sua escrita.

Este artigo faz parte da nossa série “Dúvidas Comuns de Português”. Confira também nossos artigos sobre Bastante ou Bastantes?, Este, Esse, Aquele: O Guia Completo dos Pronomes Demonstrativos e Crase: O Guia Definitivo Para Nunca Mais Errar.

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